Hashtag's tornaram-se para mim símbolo de pouca ou nenhuma reflexão. Engraçado que fui conferir a grafia para o # no Google e a segunda coisa mais procurada foi "hashtags mais usadas". Isso por si só já corrobora meu desconfiar...
Essa semana vi proliferar a marcação #somostodosMaju pelas redes sociais e como sempre me causou reflexão. A primeira foi em relação ao fato de que na mesma semana, duas notáveis mulheres foram vítimas de gente que não tem o mínimo de respeito por outrem. Refiro-me ao caso Dilma em adesivos com conteúdo sexual e desrespeitoso e ao caso de crime de racismo, cometido por inúmeros indivíduos, à jornalista Maria Júlia Coutinho. Tenho adotado como procedimento não proferir de modo citatório certas coisas, nem reproduzir algumas imagens para não proliferar tanta merda na rede. Lanço mão disso quando é absolutamente indispensável e por isso, não verás por aqui nem o adesivo nem as frases que atacaram Maju.
Eis que nas reflexões me deparo com o pensamento: pena que a hashtag não vale para todos os indivíduos que sofrem com o crime de racismo ou afins. Vale para uns e outros. Foi preciso antes de outros notáveis proferirem o #somostodosMaju para que muita gente entrasse em defesa da jornalista. E uma pena que a #somostodosMaju não se estende a #somostodosjoaquim, #somostodosmaria... Infelizmente os anônimos que sofrem com o crime de racismo não recebem apoio de tanta gente e tampouco afloram o sentimento de igual a ponto de fazer com que coletivamente, todos nos sintamos alguém.
Outra reflexão que me veio foi a questão "Somos todos Maju quem?" Quantos de nós, usamos a hashtag e à primeira oportunidade criticamos o amigo negro por estar com o cabelo grande ou indicamos a amiga negra a fazer um relaxamento ou chapinha? Quantos de nós que usamos a hashtag e negamos a todo instante a nossa ancestralidade afro e ao menor sinal, alisamos o cabelo? Quantos de nós que usamos a hashtag somos mesmo Maju's? Quantos de nós que usamos a hashtag fazemos piada racista e odiamos políticas públicas que busquem amenizar as mazelas que a população negra vive? Quantos de nós que usamos a hashtag achamos a Gloria Maria feia e a Camila Pitanga uma negra linda, porque tem traços finos?
Gente, pensa...
Para reiterar o argumento de que a mim o símbolo # significa pouca ou nenhuma reflexão lembro a lastimável #somostodosmacacos ... vou nem me alongar nisso.
Não bastasse o fato de algumas pessoas dar início ao espetáculo racista contra Maju, logo depois surgiram histórias que a meu ver foram meras tentativas de abafar o caso e trazer à tona coisas que pouca gente anda refletindo também e a criação de outras hashtags que associavam ao marido de Maju à corrupção e claro, ao PT, único partido político corrupto desse planeta. Com toda carga de ironia que conseguirem ler para o que está em itálico, tá!? E aí, claro, trazendo as especulações com o tema PT e corrupção, muita gente conseguiu esquecer a temática RACISMO que aconteceu com todas as evidências na busca por arrefecer um crime claro e de fácil investigação. A má fé fez até com que muitas pessoas tivessem lapsos de leitura e não conseguissem diferenciar as nomenclaturas PEPPER e PEPPR e no meio disso tudo, o que deu início à hashtag, caiu no esquecimento e continuaremos a presenciar crimes de racismo a anônimos e famosos, tendo em vista que estes, quando se cria qualquer outra hashtag são esquecidos.
Um adendo: a hashtag É pela Dignidade Feminina em repúdio aos adesivos grotescos montados com Dilma sendo penetrada por bombas de gasolina não tornou-se viral. Mais uma vez, corrobora meu argumento de que hashtag's simbolizam a mim pouca ou nenhuma reflexão. Quando não faço adesão a um #ÉpelaDignidadeFeminina lançado por uma petista, parece-me que o fato de ser algo que desrespeita uma presidente, que desrespeita uma MULHER, que corrobora com a visão que coisifica ainda mais a mulher como mero divertimento sexual, não importa. Parece que vai ser algo ao que terei de responder, pois estaria defendendo uma presidente, algo que não poderia nunca fazer já que a hashtag de ontem dizia foradilma e a chamava de piranha.
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