sexta-feira, 2 de abril de 2010

Passagem

Estive em férias... não necessariamente por absoluta vontade, a culpa foi como dizem os mais antigos, das escadeira! Durante o repouso pensava em muita coisa para postar, como não postei na hora, no calor dos fatos, passou...

E designo este Passagem, não porque falava de transporte coletivo no post passado... A passagem a qual me refiro é a Páscoa.

Começo por memorar um texto dramático o qual escrevi, talvez em 2003 e que nunca foi encenado. Mais um entre os tantos no acervo da AnonimatO Cia. de Teatro.
Na tal peça, intitulada Eis me aqui Senhor, Jesus Cristo, na sua morada com o Pai, antes de sua vinda, vivia na tranquilidade completa, quando seu amigo altamente ambicioso, anjo Gabriel, traz a mensagem de Javé a Emanuel, dizendo que terá de descer à terra para conduzir o povo a seguir o caminho na construção do Reino. Gabriel, sabia que ao convencer Emanuel e terminada sua tarefa, subiria de patente: de Anjo, passaria a Arcanjo, e fez o diabo a quatro para convencer o garoto a vir...


Bom, já chega de sinopse... e os direitos do enredo aí, estão reservados! O texto me ajudou muito em inúmeras reflexões sobre o sentido da Páscoa, da própria morte de Cristo, na Eucaristia e na Missão Cristã de cada dia...

A festa dos Pães Ázimos ou da Páscoa é herança da cultura judaica e a toda Celebração Eucarística rememora-nos a refeição feita por Jesus e seus amigos antes de sua crucificação.
O que muita gente esquece, não é ensinado ou faz questão de ignorar é o que acontece depois desta última ceia e do que deve ser feito em Memória D'ele...

Ao relembrarmos o ultima ceia devemos lembrar que ao comer, Judas Iscariotes foi fazer o que tinha de ser feito, e Jesus também... Comeram todos e ao terminarem a refeição foram cuidar da missão... Não procuraram uma rede ou sei lá no que dormiam para deitar-se para 'fazer o kilo', alimentados, foram dar continuidade à Missão...

Quando na ceia diz "Este cálice é a nova aliança do meu sangue, que é derramado por vocês" (Lc 22, 20) e não foi à toa... Foi em nome da Libertação do Povo de todas as correntes da opressão em que viviam, e que ainda hoje, vivemos... Vivemos porque não conseguimos até hoje, compreender a grandeza dessa Aliança. Pensemos na realidade daquele povo, e pensemos na realidade de nosso povo... Temos muitos Judas em nosso meio... Traímos a verdadeira memória, a de construir o Reino aqui entre nós e esperar pela nossa Páscoa definitiva.
Traímos como Judas e negamos, como Pedro. Traímos a cada vez que cruzamos os braços à corrupção, à falta de recursos ao nosso povo. Negamos quando fingimos não ver as atrozes violências que atentam à vida em nossas cidades. Traímos quando cuidamos de nós e nós mesmos, num ímpeto individualista. Negamos quando dizemos que se fizermos algo em nossas casas, estamos fazendo a vontade do Pai. Traímos mais uma vez quando alimentados pela Eucaristia, e não vemos o rosto de Deus naquele que do lado de fora, espera por uma moeda para comprar a pinga. Negamos e traímos quando ficamos indiferentes às mazelas de nossa sociedade, quando encaramos a fome, a sede, a falta de emprego, moradia, educação, saúde, segurança, PAZ como prêmios para bons comportamentos... como castigo de Deus para aqueles que não andam em seus caminhos... pensando assim, negamos como Pedro, o conhecimento do Projeto de Deus construído por Cristo no meio de nós, negamos e traímos sua memória.

A tão falada e pouco refletida frase "Jesus morreu para salvar nossos pecados" cai por terra... Ele morreu POR mostrar os pecados sociais cometidos pelos homens, e POR ser radicalmente contra estes.

Façamos a passagem... VEJAMOS os pecados contra o povo, os pecados que negam e traem o Projeto de Libertação e Vida Plena pelo qual o 'agitador do povo' foi assassinado. Vejamos e alimentados por seu Corpo e Sangue, Lutemos como ele lutou.



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