quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Fabíola e a saga de ir a manicure

Até ontem, quando ouvia o nome Fabíola, me lembrava de uma querida Fabíola que conheço e ouvir o nome, me dava boas lembranças. A Fabíola é uma pessoa muito agradável.
Agora, quando ouço o nome Fabíola, me sinto angustiada. E não é por culpa da Fabíola, é por conta de uma sociedade machista que diz que machismo não existe. Por conta de uma sociedade hipócrita de moralismo seletivo.

A Fabíola ficou "conhecida" como a puta que foi pega no motel com o melhor amigo do marido. O nome do marido, alguém lembra? o nome do amigo e do cinegrafista, alguém se lembra? Poucos sabem ou se lembram. Ficou mesmo o nome da Fabíola e toda a enxurrada de palavras de baixo calão para referirem-se a ela. Justiça seja feita, muita gente elevou a bandeira e pediram para deixar a Fabíola em paz, parar com julgamentos e denunciou o machismo em todo o fato. Mas infelizmente o mundo ainda tem mais gente idiota! E a todo momento as piadinhas sem noção se proliferam pela rede.

Engraçado que o moralismo barato é tanto, que não vi #somostodasfabíola. Não, dessa vez não ia dar né? Afinal, Fabíola fez o que uma mulher nunca deve fazer. Transou com outro homem... afinal, ela foi pega pelo marido - coitado - no motel. Desse jeito não dá pra sermos todas Fabíola.
Daí as milhares de coisas que passam pela minha cabeça. Fabíola foi agredida física e verbalmente no vídeo. Teve a imagem divulgada, foi exposta e humilhada. Enfim, repito o discurso dos que 'saímos' em defesa de Fabíola. 

Retomei o caso para andar com o que a mediocridade nossa de cada dia vem causando. Depois do episódio e dos inúmeros compartilhamentos da vida alheia, do quase total silêncio acerca da truculência do marido para com esposa, a fala do marido questionando a "desculpa" de Fabíola, se torna motivo de piada. 
Segundo o marido, quando saiu de casa, Fabíola iria à manicure. E agora vejo a opressão machista proliferar-se em inúmeras piadinhas acerca de mulheres irem à manicure. Já vi de tudo... marido chamando esposa para fazer-lhe as unhas; marido levando a mulher no salão e esperando-a; marido vigiando a manicure com espingarda na mão; e marido pedindo assinatura da manicure, atestando que a mulher esteve de fato, fazendo as unhas... 
E o pior, muitas de nós, mulheres, rindo, compartilhando sem a mínima reflexão sobre o que é arraigado nesse tipo de brincadeira. Será que não percebemos que parte de uma 'liberdade' que conquistamos, se perde nessa brincadeira? Sair só para ir que seja ao salão fazer as unhas, é superação de um tempo em que o enclausuramento caracterizava a vida de uma mulher e brincamos com isso! Achamos graça do homem que nunca teve interesse em diferenciar esmalte verde água de azul e ri de sabermos diferentes tons de vermelho e conhecermos a cor nude, falar em pintar nossas unhas. E rimos do indivíduo acompanhar-nos até a manicure e esperar que façamos as unhas portando arma de fogo. Capaz que se pensássemos dez segundos sobre o que postar nas redes sociais, elas estariam fadadas ao fracasso.

Daí algumas ainda brincam quando estão ouvindo meu sermão: De repente vai ter marido notando que a mulher fez as unhas né?? Cinco segundos de pensamento são capazes de perceber: Ahhhh não, essa não vai ter, vai de algum modo denunciar que muitos maridos não prestam atenção na mulher. Ah, e é isso que muitos alegam quando pulam a cerca. A esposa não lhe deu atenção, afinal, "quem não tem amor em casa, vai procurando na rua". Mas essa regra não se aplica à Fabíola.




Um comentário:

  1. claro claro, o errado foi o marido traído, a pobre mulher pega no motel com o amante tadinha.

    depois se perguntam porq o nome das feminista ta no lixo faz tempo, ninguém nem leva mais serio as femi.

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