quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A FALÁCIA DA ESCOLA SEM PARTIDO

Pra começar, o termo ESCOLA SEM PARTIDO é mal intencionado e os que o concebem sabem bem disso. Talvez não saibam aqueles que reproduzem-no, que ouvem defesas mal intencionadas dos que enfrentam uma escola que, de fato ruma para ser o que escola deve ser: promotora de conhecimentos sistematizados, promotora de debate e passível de contribuir para a reflexão a cerca das estruturas da sociedade, para a consolidação da autonomia e da liberdade, abafadas pelo capital.

A prática pedagógica é em si uma prática social política. Não é necessariamente partidária, mas não é apolítica. E no quadro de uma prática social política, colocar a par dos acontecimentos em diferentes perspectivas e frentes é fazer educação.

Sabendo do caráter apolítico da prática pedagógica aqueles que querem frear os avanços que temos feito na educação criou-se toda uma mídia que vem conseguindo convencer cada vez mais pessoas que "há uma ditadura de esquerda no ensino público e que as nossas criancinhas estão sendo corrompidas por uma escola psicopata, sem valores, amoral e esquerdista"...

Vamos por partes... Politicamente, compreendo o poder da Pedagogia Crítica nos avanços que temos e não dá pra explicar isso sem falar sobre luta de classes e ensino público. O ensino público no Brasil, a escolarização para a classe popular, começa a receber investimentos no início do século XX em virtude da necessidade de formação de mão de obra, de força de trabalho. Nesse sentido, temos uma prática pedagógica já repleta de interesse político/econômico: formar trabalhadores para o mercado de trabalho, para tanto uma prática pedagógica que introduziria e faria incorporar técnicas a serem aplicados no mercado de trabalho. Uma educação voltada ao fazer irrefletido e que é considerada pela parte detentora dos meios de produção, essencial, portanto, nada apolítica, nada apartidária. Assim, a educação, da forma como se processa, tem estado a serviço, digamos, de um partido, um partido da classe detentora dos meios de produção que necessita manter a estrutura da sociedade, precisa forjar trabalhadores que pouco reflitam sobre questões para além de conteúdos mecanizados, fragmentados e instrumentalizados.
E, vendo se processar uma perspectiva educacional crítica, progressista, voltada a levar a classe trabalhadora a ir além do que a classe burguesa considera necessário para formar suas "máquinas", a burguesia viabiliza seu projeto de manutenção da estrutura de exploração de força de trabalho que reproduz seus interesses, dentre outras maneiras, "criando" um projeto, uma prática pedagógica baseada na falácia de neutralidade política, A FALÁCIA DA ESCOLA SEM PARTIDO. E pior, pelos meios mais vis e promotores de ódio convence parte da sociedade que a escola precisa conservar uma neutralidade que nunca foi sua.

Conforme Saviani (1983) a escola é um instrumento de reprodução das relações sociais e, reproduzindo a sociedade capitalista, reproduz a dominação e exploração característicos dessa sociedade, apresentando-se como tendente à conservar o antagonismo de classe. Contudo, o filósofo pontua que uma educação que se baseie em uma sólida fundamentação teórica para a compreensão da realidade social, é capaz de transformar as bases da sociedade, formando o homem para “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e colaboração entre os homens” (SAVIANI, 1980, p. 52). Para tanto, ainda segundo o filósofo, a escola deve possibilitar a formação do homem livre, democrático e autônomo, exatamente o que não é efetivado numa sociedade pautada pelo capital e numa escola que atenda aos interesses da classe burguesa. 

Para isso, não se pode processar apenas um ponto de vista, furtar-se do debate e da liberdade de ideias baseadas no conhecimento historicamente construído pela espécie humana, não se pode negligenciar ponderar o pensamento conservador e o progressista. No contexto da Escola sem partido, professor que em sala de aula, ponderar as coisas, elevar o contraditório, instigar ao pensamento dialético, emitir seu pensamento e ter formação capaz de levar o estudante a ser além de uma máquina reprodutiva dos 'valores' da sociedade burguesa e que faça frente à conservação da sociedade capitalista, é tomado como tendencioso e promotor de uma escola partidarista, gravemente promotor da "doutrinação esquerdista". Contudo, aquele que não o faz, promove para nós aqui, a manutenção de uma sociedade que inventa um ensino neutro numa escola que não é e nunca foi neutra, apolítica e muito menos, apartidária...


Para informações sobre o assunto: http://www.anped.org.br/search/node/ESCOLA%20SEM%20PARTIDO 




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