sexta-feira, 24 de julho de 2020

COISAS DE COVID-19: Corona virus e não sou obrigada II. Ivermectina parte 3


Muito longe de esgotar-se o assunto vermífugo para cura de vírus, venho na terceira e última parte dessa série sobre ivermectina. 

Dentre as motivações para a escrita dessa série, foi impulsionador o vídeo de um médico goianiense que proferiu em uma TV local uma ampla defesa - com toda empáfia e ignorância acerca das fases de estudos do medicamento - afirmava categoricamente alguns pontos acerca da ivermectina, pontos os quais não sendo obrigada a ouvir tanta bobagem calada, me manifesto. Naquela coisa né, quem sou eu na fila do pão para contestar um médico? Muita coisa não, nem tenho mídia, nem seguidores, nem paciente, sou uma reles professora! Mas com Lattes validado e real e buscando sempre, na minha atuação profissional pautar-me pelos dados científicos analisados por pares. Licenciada, especialista, mestre. Poderia até dizer que doutora, como uns ministros aí, o que me impede é que fui reprovada na quarta e última fase do processo seletivo, e meu caráter, claro. 
Na conduta médica, acredito que as vezes o médico tenha suas escolhas, seus próprios testes, até porque muitas vezes "ganhamos" amostras de medicamentos e aquilo vai além de divulgação de marca, na minha cabeça conspiradora, pelo menos. Uma coisa é a conduta, outra é fazer "propaganda" de algo que não se sustenta para determinado fim. E é o que ele faz, e tantos outros também vem fazendo e replicando. Quantas mensagens em aplicativo não recebi dizendo que "equipe de saúde de tal lugar indica o kit covid" ou que "limão, vinagre e ivermectina" são a solução? 

Vamos aos comentários sobre as afirmativas do Dr. que, dias depois da entrevista, novamente foi manchete em jornais por seu quadro estar se agravando já que encontrava-se hospitalizado em UTI, pois estava positivo para a doença. Ponderei sobre os comentários considerando ele estar na situação em que se encontrava, mas entendi que falar o que penso não diminui em nada minha solidariedade à pessoa dele tampouco estima de melhoras e a torcida pela plena recuperação. Em buscas sobre o atual estado de saúde do médico, não encontrei nada até o momento da publicação, apenas replicações de sua internação.


Inicialmente na entrevista, o âncora do jornal é direto e após apresentar o entrevistado como médico cirurgião questiona se ele é contra ou a favor do uso preventivo da ivermectina. O médico, replica se quer a resposta como médico ou como paciente. Na cabeça respondi: "Dr. você não foi convidado nem apresentado ao público como paciente, foi convidado e apresentado como médico. Paciente, em desespero por melhoria, por cura, toma até remédio contra indicado!" 

A ancora então pergunta se ele está com a doença, ele confirma, diz que está em quarentena há oito dias e ironiza, num rompante de empáfia e vaidade, dando um tapinha na própria face "e desse jeito aqui ó, na UTI". Em susto o outro jornalista pergunta "O Sr. foi pra UTI dr.?" Em mais uma amostra de superpoderes ele diz :
"Não, claro que não. Tem cento e dez dias que eu venho pregando esse tratamento profilático ai" referindo-se ao TRATAMENTO SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA ALGUMA com a ivermectina. E dando continuidade ao argumento, me deixou perplexa pela primeira vez ao afirmar que conseguiu mobilizar mais médicos da cidade para fazer campanha em favor do medicamento e seu efeito profilático. 

Nesse momento, menciona que mobiliza-se junto a tais médicos em um grupo de WhatsApp e vai ao ponto da má fé ao afirmar que tais grupos tem sofrido censura por parte do STF referindo-se à limite de participantes do aplicativo. Em um misto de falta de conhecimento, alimentado provavelmente por fake news e uma imagem muito enviesada politicamente em relação ao STF, tenta convencer as pessoas que seu grupo tem limite de participantes para frear alcance do conteúdo. Caro Dr. o mínimo que esperamos é informação. Conhecimento articulado também, mas sei que isso não é para todos infelizmente. Desde a atualização de 2016 o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp expandiu sua capacidade de participantes em grupos para até 256 pessoas e o STF não teve e não tem nada a ver com isso: https://canaltech.com.br/apps/atualizacao-no-whatsapp-aumenta-limite-de-participantes-de-grupos-para-256-57445/

Logo mais adiante ele pondera suas afirmativas na perspectiva de "proposição" do tratamento preventivo e de uma "inviabilidade", que nas entrelinhas diz ser política, do uso da cloroquina "a píula do presidente, a píula do Trump" alegando que sumiram e não era encontrada (aliás, cadê o estoque que por ordem do Patropi foi fabricada em larga escala?) e pra não dizer que usei fonte suspeita ta aí, https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/id/11267194  mas o assunto em pauta ainda não é esse... voltemos.
Ao potencializar um debate político sobre cloroquina, em um graças a Deus, diz que temos ivermectina para fazer esse trabalho e segue com um exemplo bizarro: "temos a experiência da ivermectina que foi usada nos países que tem menor de incidência e índice de letalidade do mundo e é o país mais pobre do mundo, que chama-se Etiópia". À parte a informação não correta de a Etiópia não ser o país mais pobre do mundo, não ocupar o 1 do triste ranking de líder em pobreza, é grotesco 
tentar articular uma relação entre o uso do vermífugo e a baixa taxa de letalidade no país. 

Antes de aprofundar especificamente no país, dentro dos nossos limites aqui, lembremos: o continente africano tem, de acordo com censo de 2016, 1,216 bilhões de habitantes e pretendia até o final de abril fazer 10 milhões de habitantes em todo continente de acordo com a DW News. Desse total da população, 103,6 milhões representava a população da Etiópia, dados também de 2016 disponíveis em busca no Google. Após a primeira morte confirmada por COVID-19 no país, menos de dois mil testes haviam sido realizados em 20 dias depois do primeiro registro. A testagem em pequena escala, sabemos, oculta em muito os dados. Se não testa-se, não há dados consideráveis a ponto de afirmar que as pessoas não adoeceram. Temos aí portanto, uma hipótese que para quem é extremista pode ser conclusiva tanto quanto usar vermífugo é a forma de prevenir. É questão de ponderar conhecimentos e possibilidades: um país pobre, onde parcela ínfima da população é testada, um vermífugo não pode ser associado à "baixa letalidade ou contágio" tampouco considerado como preventivo, como o médico no vídeo faz a associação.

Ele informa que como uma espécie de política sanitária, na Etiópia fazem-se duas vezes ao ano oferta  de ivermectina à população "como um esquema de vacinação" e para tentar dar corpo à sua fala, diz que a OMS, desde 1997 faz a profilaxia com vermífugo no país! Embora não oculte informação de que a ivermectina é aplicada PARA FINS PROFILÁTICOS À PARASITAS, mais uma vez passa a impressão de que busca induzir as pessoas a acreditarem na relação isolada de que a suposta baixa letalidade e incidência de COVID-19 na Etiópia se deve a esse "tratamento profilático" que por lá fazem contra a doença desde 1997, mesmo muito antes de sua existência, quando na verdade o tratamento profilático desenvolvido acontece desde esse ano para controle de doenças causadas por parasitas e não vírus. Ele volta no tempo 23 anos para tentar sustentar seu sofismo!

Enquanto a âncora faz algumas ponderações acerca de grupos que falam em cautela para o uso do medicamento que ainda não tem comprovação de eficácia tampouco conhece efeitos colaterais, o médico faz caras e bocas de negação e de deboche até, inclusive quando esta anuncia que o Conselho Regional de Farmácia se pronunciou e segue-se com a fala de um representante do referido Conselho, que pondera acerca da origem do "boato", do desconhecimento da dosagem para suposta e devidamente atacar o vírus e os riscos em fazer uso do medicamento em seus efeitos colaterais e risco de superdosagem. Volto aqui a um ponto importante: muito dos argumentos usados pelo povo sobre a ivermectina é que não tem efeitos colaterais. Eis uma falácia.

Sabemos que todo fármaco tem efeitos colaterais, e o principal é atacar o patógeno, caso contrário nem se tornaria mediamento, mas que reações adversas destes podem não se manifestar na maioria das pessoas. Entretanto a questão da dosagem é de extrema importância. Nas "receitas" prescritas pelos "médicos" do WhatsApp falam em 1 comprimido para cada 30kg. Lembremos que essa é a prescrição para tratar e prevenir VERMINOSES, ou seja, doenças causadas por PARASITAS. Ademais, os possíveis efeitos colaterais se referem a pesquisas em reações adversas considerando o organismo humano afetado por PARASITAS, e não VÍRUS. Portanto, como ainda estamos em testes experimentais sobre ivermectina no ataque ao Corona vírus não se pode prever efeitos colaterais e reações adversas e dizê-los inexistentes para organismo humano infectado por tal vírus, tampouco a dosagem segura para ser eficaz.

Após a fala do conselheiro, o médico retoma a palavra e reafirma, quase que ignorando tudo o que foi dito anteriormente, que o Conselhos de MEDICINA, dando ênfase a tais, tem dado pareceres favoráveis e cita alguns exemplos, dizendo ainda que não há nenhuma proibição para que prescrevam o medicamento, como se por não haver proibições, todos estivessem livres para prescrever quaisquer coisa que achassem por bem, injeção na testa, por exemplo, mesmo que esta não se provasse possível ou eficaz. Entretanto, na continuidade da fala, mais uma vez fiquei perplexa com o modo pelo qual ele tratou a pesquisa.

Ao cobrar do CRM-GO que deveria dar um parecer a favor ou contra o uso da ivermectina para COVID-19, argumenta que tem liberdade como médico de prescrever, e que se baseia é na sua experiência de 40 anos de prática e diz: "eu tô na ponta, eu não to fazendo PESQUISINHA randomizada não porque não dá tempo, não dá pra esperar um ano pra ficar pronto não, assim como a vacina que não vai ter esse ano não, esquece. Esquece. A vacina se chama-se ivermectina".  Enquanto ainda me recuperava do susto com a 'pesquisinha' levei outro com a afirmativa 'a vacina é ivermectina'... foi até difícil processar na hora, tamanho meu estarrecimento.

Para quem não sabe, tudo, absolutamente tudo passa por pesquisa. Logo também, e graças à métodos, metodologias e protocolos altamente sérios, todo medicamento passa por pesquisa randomizada e é aviltante alguém que deveria se basear na ciência séria, que tem por base de sustentação a pesquisa, jamais poderia referir-se pejorativamente a essa importantíssima base. Com todo respeito a quem não teve oportunidades, não é o vendedor de picolé com a primeira fase do ensino fundamental incompleta que menosprezou dessa forma a pesquisa não. Foi um médico. Um médico com 40 anos experiência, gente! E que como ele, sabemos que tem mais. Os 40 anos de experiência, inclusive a possibilidade de prescrever o medicamento que quiser, só foi possível graças às pesquisinhas!

E aí né, para finalizar o trecho, conclamo a ordem do 'doutor' de esqueçamos vacina esse ano! Pra quem não dá crédito à pesquisa, vou dizer o que? O cara invalida pesquisas. Logo, vai afirmar sempre com toda empáfia e razão desrazoada  que vermífugo é vacina para vírus com a fé em Deus e só.



Links úteis:

O vídeo:
https://youtu.be/X8a2hpJxHSI

Algumas leituras interessantes:

http://revista.fmrp.usp.br/2009/vol42n1/Simp_O_que_e_um_estudo_clinico_randomizado.pdf












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