terça-feira, 25 de maio de 2010

REPOSTA A TV

O texto que se segue é de uma colega da Rede, que responde a um jornalista a respeito de nossa GREVE! Adel, todos os direitos a você reservados e divulgados rsrsrsrs!



Os profissionais em educação do município de Goiânia aderiram à greve por tempo indeterminado devido ao descumprimento da Lei do Piso por parte do prefeito da cidade, bem como pelo não atendimento das reivindicações dos trabalhadores, tais como a elaboração do plano de carreira para os servidores administrativos e agentes educativos e a melhoria da infra-estrutura das escolas, entre outras.

Ao noticiar este fato em um telejornal da TV Record, o jornalista Carlos Magno, depois de uma curta e pouco esclarecedora reportagem, que dava ênfase ao fato dos alunos das escolas públicas terem ficado sem aula, disse que é crime deixar alunos sem aula.

Um bom profissional deve investigar os fatos e noticiá-los de forma ética, sem desvirtuá-los. Porém o jornalista demonstra desconhecer a realidade ou não pretende informar a sociedade sobre a verdadeira causa da greve dos trabalhadores em educação.

Quero lembrar ao nobre jornalista que crime é a falta de respeito aos profissionais, pois a categoria recebe salários insignificantes, exigindo que os mesmos aumentem sua jornada, chegando a trabalharem três turnos diariamente, o que afeta a saúde do profissional, prejudicando sua qualidade de vida bem como a qualidade do ensino.

Crime é não promover condições técnicas de trabalho, considerando as dificuldades encontradas na prática como a precariedade das instalações físicas das escolas, a falta de bibliotecas, laboratórios de informática, quadras esportivas e materiais didático-pedagógicos.

Crime é a falta de coerência entre o discurso de campanha, colocando a educação como prioridade e a omissão dos gestores públicos ao assumirem tais cargos, desenvolvendo políticas que visam apenas índices estatísticos, sem compromisso com um ensino de qualidade.

Crime é não garantir acesso e permanência à educação básica de qualidade como prevê a legislação vigente, pois sabemos que nossos governantes tem se preocupado apenas com dados estatísticos, para atender exigências de organismos financeiros internacionais.

Crime é a corrupção instalada em todas as esferas do poder enquanto lutamos por um mínimo de dignidade e respeito.

Quanto ao “prejuízo” mencionado é necessário lembrar que a LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) exige que o ano letivo tenha, no mínimo, 200 dias letivos, e que esse calendário é cumprido pelas instituições de ensino. Ou seja, se há paralisação, há reposição. Nenhuma manifestação dos trabalhadores em educação é feita de maneira irresponsável ou inconseqüente. Ao contrário, todas as decisões são avaliadas, tentando minimizar qualquer prejuízo que possa decorrer em virtude do movimento.

Sabemos que a luta de classes foi e continua sendo imprescindível dentro do sistema capitalista para que os trabalhadores tenham seus direitos reconhecidos e respeitados. Na educação não é diferente. Aliás, é ainda mais importante, pois para que haja coerência entre os objetivos dos projetos educacionais que visam à formação de um cidadão crítico e consciente de seus direitos e deveres, é necessário exercitar essa cidadania, na prática, lutando por uma sociedade mais justa e igualitária. Uma educação de qualidade não pode ser alienada e nem alienante, mas tem o dever de ser crítica e educar para a diversidade e liberdade.

Uma escola pública, que se julga democrática, precisa trabalhar uma educação contra-hegemônica, de contracultura, que respeite as especificidades dos sujeitos sem naturalizar as desigualdades, questionando a função social da escola, inspirada na teoria dialética do conhecimento, onde a mesma deve partir da realidade social, permitindo ao aluno constatar, compreender e explicar os dados da realidade, atuando como ser sócio-histórico, lutando contra as injustiças sociais.

Para Moraes, 2002, a ação política, como se sabe, é exercida por meio de vários instrumentos. E um deles nem sempre devidamente considerado é a produção e difusão de idéias, imagens, valores. Dizer que algo é apenas “um discurso” ou “mero reflexo” pode ser perigoso, porque arrisca ignorar que enunciados são armas.

É fato que nenhum país do mundo consegue se desenvolver sem investimentos maciços em educação. Então sugiro ao Sr. Carlos Magno que como jornalista, e, portanto, formador de opinião, ao invés de condenar uma categoria tão desvalorizada, que use o espaço televisivo que é massificado, para cobrar do poder público o cumprimento das leis, iniciando pela Lei 11738/08 que institui o Piso Salarial Profissional Nacional.

Porque as outras categorias que estão mobilizadas em processo de greve para também exigir seus direitos não foram insultadas dessa forma?

Adelvair Helena dos Santos e Silva

Professora

Goiânia, maio de 2010

Um comentário:

  1. Excelente artigo e condiz com tudo o que penso, parabeniza a sua amiga por mim, Aline.

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