quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Escravos do Espetáculo

Com o tempo seco, desértico, Goiânia nos últimos dias - pelos 20 últimos dias - tem registrado sempre Umidade Relativa do Ar abaixo dos 30 %. Alguns dias, durante as tardes, foram registrados índices de URA 9%. Longe de ser este um post de condições climáticas, é uma reflexão acerca de uma categoria de trabalhadores que quase nunca são considerados como tal.

Dentro de mais um processo de trabalho alienado, o profissional atleta em tempo desértico está sob qualquer acordo que o esporte de espetáculo se posiciona.

Trago como exemplo o treino de uma das equipes - esmeraldina que ainda está na Serie A 2010 do Estado de Goiás, cujo nome não vou citar srrsrsrs - do qual vi imagens na segunda feira. Lanterna do Brasileiro, como todas as demais equipes de todos os desportos, estão treinando duro num período em que atividades vigorosas e sob sol, deveriam ser suspensas como medida profilática a uma série de complicações. Mas quem liga? Desde que os patrocinadores estejam sendo vistos nas rodadas dos campeonatos e nos velórios, tudo ficará exatamente como está! (ou na melhor (pra mim) das hipóteses o tal time esmeraldino ficará ano que vem na série B...

Piadas de mau gosto a parte, no cenário do futebol goiano estamos vendo o tal verde sendo enxovalhado pelos 'comentaristas' e cronitas esportivos, os chatos de galocha que pouco observam as relações de trabalho implícitas no esporte. Com assuntos internos pendentes, a diretoria da equipe tem afetado em muito o rendimento dos atletas em campo e estes, além de estarem na zona de rebaixamento, estão com seus salários atrasados.

Um tal comentarista, Romes Xavier, desferiu na segunda-feira (06-09) ataques inúmeros aos atletas do Goiás Esporte Clube, desrespeitando por completo os jogadores. Proferiu um discursozinho barato acusando os trabalhadores de preguiçosos e de má vontade. Aí, pergunto senhor Romes Xavier: Quem estará disposto, num tempo seco como este, sem receber salários, sofrendo com boatarias e baixarias na diretoria do clube? Quem terá motivação para qualquer merda?

Outra coisa que os comentaristas não relatam relaciona-se ao preço das pessoas! Muito se diz do tráfico de seres humanos... mas e sobre a venda deles a equipes esportivas? Compram-se atletas, como compravam-se escravos outrora. Os objetos do espetáculo são negociados ao bel prazer das equipes e dos patrocinadores.
Sobre esse aspecto, o tal comentarista ainda abusou ao dizer das negociações que poderiam mandar para outro time Rafael Toloy. O zagueiro estava sendo negociado e a diretoria do Goiás não deu seguimento à negociação... mais palavras insanas foram proferidas. A ver pelo ponto de vista da venda de seres humanos, escravos do esporte de espetáculo - apesar de alguns muito bem assalariados e inclusive deveriam-se estipular piso e teto salarial para eles - não são homens ou mulheres livres! São fantoches de suas equipes e de seus patrocinadores e as vezes, ficam ainda com salários atrasados...

Cito exemplo de Ronald Quintero atleta de uma equipe colombiana. Durante o treino, o cara desmaiou... e os colegas de equipe afirmam, desmaiou de fome. Estão com salários atrasados e não tem nem como fazer supermercado!
No ano passado, o Flamengo também passou pela crise e por mais de dois meses não pagou os jogadores do time;
Jogadores do Guarani chegaram a ameaçar fazer greve após atrasos salariais;

E então, o campeão da Libertadores de 2004 deflagra GREVE...

"Decidimos parar porque a situação está muito complicada. A maioria não tem o que comer, cortaram nossos serviços e os nossos filhos não estão podendo frequentar seus colégios. Por isso, decidimos tomar essa decisão até que os salários atrasados sejam pagos", explicou o capitão da equipe, Alexis Henríquez.

Basta das uma procuradinha na rede que veremos inúmeros casos de negação dos direitos trabalhistas para esta categoria.

Alguns poderão dizer: que se lasquem, ganham milhões... independente do que ganham, a análise que traço hoje é sobre a escravidão a qual os atletas de alto rendimento são submetidos.

E começa o espetáculo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário