sexta-feira, 22 de abril de 2016

SOBRE BOLSAS E FERRAMENTAS

É muito fácil dizer que alguém não quer trabalhar. Mais fácil ainda é culpar programas sociais assistencialistas, que, embora elevem renda, auxiliem a vida das populações empobrecidas, tiram-nas da miséria extrema etc. não alteram a estrutura social, não alteram o modo produtivo que produz desigualdades sociais, pelo desinteresse pelo trabalho.
Difícil mesmo é compreender que trabalho, envolve realização pessoal, concretização de ideias próprias, realização de si por meio de uma atividade concebida e executada em todas as suas etapas, cujo produto é repleto de peculiaridade.

 Vendo pela rede crítica ao Bolsa Família - minha crítica já foi feita acima, não altera o modo produtivo - algumas questões me vieram a cabeça.


É, até porque, só com Bolsa Família não dá pra sustentar. Mas talvez a princípio fuja ao leitor que esta bolsa, repleta de ferramentas diferentes, representa também a necessidade de saber manusear tais ferramentas. Saber empregá-las em alguma atividade. E que isto, necessita no mínimo, mínima formação.
Para que eu use um martelo e sustente minha família com ele, preciso ir além de conseguir pregar pregos ou arrancá-los com a parte dentada.
Para que eu utilize uma furadeira e sustente minha família com ela, preciso informações mínimas acerca da superfície a ser 'furada', para saber que broca usar, que pressão exercer...
Para usar chaves, alicates, serrotes, e sustentar minha família preciso antes ter no mínimo noções espaciais, saber sobre texturas, espessuras...
Para usar uma trena e sustentar minha família, não basta saber ler números e estendê-la sob uma superfície. Preciso no mínimo, noções de cálculo básico para somar comprimento, multiplicá-los, dividi-los, calcular área, perímetro... enfim, não me basta carregar a bolsa, preciso ter conhecimentos mínimos para utilizá-la para sustentar minha família.
Se eu não souber utilizá-las, esta bolsa não me serve para sustentar minha família. Portanto, se eu não sei fazer algo, não faço não por preguiça, mas por desconhecimento. Que tal pensarmos em "bolsas" que possibilitem o acesso de pessoas à formação? E não digo apenas que as ensine a apertar parafuso, ou furar parede. Mas que as ensine também porque, a uns fica a tarefa de conceber uma broca x para furar tal superfície, a outros produzir tal broca e a outros, enfiar na tomada a furadeira e fazer o furo.
Que ensine o motivo pelo qual tal bolsa retrata muito bem a fragmentação do trabalho? A separação entre os que pensam e os que executam?
E ainda, uma formação capaz de explicitar porque induz-se à ideia de que os "sustentados" pelo Bolsa Família, tem de exercer profissões única e exclusivamente na execução de trabalhos com ferramentas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário