quinta-feira, 16 de julho de 2020

COISAS DE COVID-19: Corona vírus e não sou obrigada - II: Ivermectina parte 1.

Desde o início da pandemia tenho reconhecido mais ainda meus privilégios e pensado muito sobre a trajetória de vida que tive, as oportunidades, e, lembrado bem que na minha identidade de classe trabalhadora, fui privilegiada por não ter de assimilar estudo e trabalho, pois meus pais, diferentemente de muitos pais dessa classe, me proveram condições materiais para apenas estudar na infância e adolescência. Oportunidade que sei que não é para todos. 

Hoje, olhando a trajetória acho que fiz bom uso da frase que sempre pais que conseguem garantir aos filhos o estudo sem trabalhar proferem, ordenam: "você não faz nada, estão estude". Não que fosse a top das top, a nerd, mas acolhi bem muitas aprendizagens básicas que hoje vejo faltarem absolutamente em muita gente. Talvez nem faltaram, talvez muitos quiseram mesmo foi deletar e abdicar de seu próprio pensamento porque é bem mais fácil botar fé na corrente de WhatsApp do que se lembrar do básico da escola, que em tese, e a meu ver, parte síntese, cumpre pelo menos parcialmente o papel de transmitir para fins de assimilação o conhecimento científico sistematizado produzido pela humanidade.

Nesse sentido, me lembro, as vezes em flashes, de momentos da escola primária quando, ainda os estudos de "ciências", ensinavam-se sobre as doenças causadas por vírus, bactérias, parasitas. Guardo na memória imagens de um livro de ciências da 2ª série em que, caricaturalmente, um brejeiro ia próximo a um rio defecar e suas fezes contaminavam a água, gerando patógenos e onde aparecia por exemplo o ciclo de vida de parasitas, que faziam depois aquele mesmo brejeiro, familiares e outras pessoas, vítimas de alguma doença, de alguma verminose, que no caso específico me deixou totalmente encabulada porque causava "barriga d'água". Mais tarde, na "ciências" da 6ª série aprendi que aquela doença se chamava esquistossomose, que as condições sanitárias precárias e a falta de água potável agravavam o problema, e aí já tinha algumas condições para compreender que o saneamento básico era uma das formas profiláticas de conter a doença e que também, havia tratamento medicamentoso para grande parte das doenças parasitárias, algo que foi bastante aprofundado lá no Ensino Médio. Inclusive deu até pra compreender que "barriga d'água" não era coisa de gente da roça, mas que na cidade, com a ineficiência de governos em garantir e potencializar saneamento básico, fazia com que também na cidade os perigos das doenças parasitárias fosse iminente, principalmente para a parcela menos ou nada privilegiada que eu da classe trabalhadora.



Esses conhecimentos básicos, que todo aquele que frequentou a escola, em condições mínimas asseguradas para uma boa aprendizagem, também sei que parcela inferior que gostaria, me fizeram entender que existem diversos microrganismos e diferentes formas de auxiliarem ou atacarem o corpo. E lembrando também desses conhecimentos básicos, aprendi lá que o corpo se forma meio que gradualmente, de células que formam tecidos, que formam órgãos, que formam sistemas e que, por fim, funcionando juntos, fazem o 'corpo' funcionar. 

Essas memórias vieram muito à tona desde as primeiras semanas após o anúncio da OMS acerca da Pandemia causada pelo Corona vírus "versão 2019" e da corrida por tratamentos eficazes contra a doença em seu potencial de morte, grande disseminação e sequelas mesmo em suas formas mais brandas. Muitos de nós sabemos que não existe nada comprovadamente seguro e eficaz de fato, seja para prevenção ou tratamento da doença causada pelo vírus, a COVID19 e suas apresentações clínicas.

Entretanto, vimos na corrida por algum tipo de tratamento despontar-se especulações, teorias conspiratórias e até campanhas em favor de alguns medicamentos que, em hipótese, poderiam trazer algum benefício. Contudo, não chegamos ainda a nenhuma conclusão, a nenhuma evidência científica de fármacos nem para prevenir, tampouco imunizar ou tratar a doença em seu núcleo.
Sabe-se que a doença é causada por um vírus, organismo que lá no ensino fundamental e médio aprendi que se difere em ação, anatomia e fisiologia de outros organismos como vermes, bactérias, fungos... há obviamente outros aspectos que um especialista nessa área poderia pontuar bem melhor, mas que é, no limite, suficiente para a discussão aqui em pauta.
Ao considerarmos o vírus e sua estrutura, aprende-se que antivirais são os principais medicamentos que atacariam e venceriam algum vírus e também que, raramente teremos um medicamento antiparasitário, anti verme eficiente no combate do organismo viral, bem como antibióticos - apropriados para combater doenças bacterianas...

Contudo, em hipóteses, o raramente entrou em ação, e na corrida por cura, tratamento ou prevenção da Covid-19 alguns medicamentos começaram a ser testados no mundo todo, e parte deles apresentou indicativos para continuidade nas pesquisas.
Normalmente, a partir de hipóteses iniciam-se fases de testes para quaisquer medicamento passa a ser estudado, havendo um protocolo a ser seguido. Numa fase inicial é feito um estudo experimental, pré-clínico, com testes em células isoladas e posteriormente em animais de pequeno porte; depois em animais de porte maior; depois em um pequeno grupo de humanos; depois em um grupo maior... sempre testando as evidências até chegar-se a um parecer para eficácia, segurança na dosagem, efeitos colaterais etc. Entretanto, chegam-se a testes em animais mesmo de pequeno porte somente se no primeiro momento, na aplicação do fármaco em células isoladas o mesmo apresentar algum efeito. É o que se chama de teste in vitro.

E aí, demorou mas chegou: entramos na ivermectina! Dentre 153 medicamentos que estão sendo testados no combate à Covid-19 a ivermectina foi um dos que apresentaram potencial para continuidade nas pesquisas após ser aplicada em célula infectada com corona vírus e, em 48h reduzir em 97% sua carga viral. Entretanto, cabe ressaltar: o estudo é pré-clínico e só é válido para não excluir-se a ivermectina da lista de medicamentos completamente ineficazes, dado que esses, que nem reduzem carga viral e são excluídos da lista de possibilidades. É como se fosse um indicativo, continua aí vendo nas próximas fases, talvez funcione! Eis que o talvez é o divisor de águas.

A possibilidade apresentada pelo estudo pré-clínico virou quase fofoca: de uma "carta branca" para continuar na fase pré-clínica, passando a testar o medicamento em animais de pequeno porte, só porque o medicamento já é utilizado e comercializado para PARASITAS, numa dosagem específica para PARASITAS, os "fofoqueiros" já saíram aumentando a história, concluindo que a ivermectina é eficaz para prevenção da Covid-19. Olhe lá: de uma carta branca para continuidade de pesquisas já se pulou para "ela previne, ela trata, ela cura".

A crença é tão forte que a procura pelo medicamento cresceu exponencialmente em várias cidades brasileiras como é possível confirmar em buscas simples nas mídias e até mesmo em nossos grupos de conversas - espero que todos como os meus, de forma remota, ainda mantendo o necessário distanciamento social. As alegações inúmeras e argumentos perpassam por "médicos estão indicando" e "não há efeitos colaterais graves".

Tais argumentos ficarão para a parte seguinte dessa série, onde continuarei a partilhar minhas impressões e considerações, porque não sou obrigada né!

Alguns links interessantes para leitura:


http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/esquistossomose

https://saude.abril.com.br/medicina/no-mundo-todo-153-remedios-sao-testados-em-pacientes-com-coronavirus/

https://www.inca.gov.br/pesquisa/ensaios-clinicos/fases-desenvolvimento-um-novo-medicamento

https://monografias.brasilescola.uol.com.br/biologia/vermes.htm

https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/04/04/cientistas-acham-remedio-em-testes-que-mata-coronavirus-48h-apos-infeccao.htm








Um comentário:

  1. Você é muito fera!! Falou o que muitos pensam, porém, não tem a sensibilidade e conhecimento que apresentou.

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